Noemia Oliveira fala de estreia no cinema com filme só de atores negros

Noemia Oliveira é a mais recente contratada ao elenco fixo do Porta dos Fundos (começou no grupo em janeiro deste ano) e já foi destaque no The Guardian ao protagonizar o vídeo “Escola Sem Partido”.

Atriz há 17 anos, deu aulas de teatro para crianças, trabalhou em comerciais e teve sua primeira experiência no cinema em 2018 no filme Eu, Minha Mãe e Wallace, dos irmãos Eduardo Carvalho e Marcos Carvalho. O curta-metragem foi selecionado ao 51º Festival de Brasília do cinema brasileiro e lá, recebeu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. Após isso, fez uma participação no longa-metragem Prisioneiros da Liberdade, dirigido por Jeferson De, com estreia para o início de 2020.

Foto: Luiz Brown

Noemia também é idealizadora do Projeto Identidade ao lado do, também ator, Orlando Caldeira. Juntos, produzem uma exposição fotográfica que retrata ícones da literatura, cinema, música (originalmente brancos), representados por pessoas negras, a ideia é propor uma reflexão sobre os valores estéticos impostos na sociedade brasileira, ao utilizar a força da imagem. O Projeto Identidades foi exposto por duas vezes, e hoje, pode ser acompanhado pelo Instagram.

Você acaba de participar do Festival de Cinema de Salvador com o filme ‘Eu, Minha Mãe e Wallace’. Qual é o significado deste filme pra você?

Acabamos de ganhar dois prêmios de melhor filme no XV Panorama internacional coisa de cinema com esse trabalho super intenso de autoria e direção dos irmãos Carvalho. Esse curta é muito importante na minha vida pessoal e profissional.

Enviei um videobok filmado pelo “coletivo preto” – que criou um projeto para que jovens negros tivessem material profissional. Fiz o teste depois de 17 anos de teatro, nenhuma experiência em áudio visual e uma vontade recente de desistir (depois de tanta resistência ) . Esse filme veio como uma catapulta, uma oportunidade de me (re)inventar e (re)descobrir artisticamente. Quando ganhei o prêmio de atriz coadjuvante no festival de Brasília me revigorei e outras oportunidades surgiram depois disso.

 

Foi muito difícil fazer um trabalho com uma carga dramática tão grande? Por quê?

A Vanessa é uma personagem complexa, uma mãe solo que sente a dor da ausência e protege vorazmente a filha em seu primeiro encontro com o pai, após 10 anos. Foi difícil sim, mais o Fabrício Boliveira, além de excelente ator é super parceiro de cena.

Sob olhar sempre muito sensível dos diretores, eu, ele e a Sophia Rocha (atriz que faz nossa filha) trocamos muito e nos influenciamos para que nossas personagens chegassem ao espectador com as suas verdades latentes.

As pessoas comentaram sobre a diferença do seu trabalho no filme e no Porta? O que elas disseram?

Com certeza! Na verdade, elas costumam não me reconhecer e eu acho isso o máximo!

O filme tem rodado o mundo em alguns festivais de cinema. Uma vez fiz um teste para um longa metragem e a diretora havia assistido uns vídeos meus do porta. Quando ela perguntou minha experiência em áudio visual e eu citei o filme, ela ficou um tempo olhando para mim e imaginando quem eu poderia ser. Só que sou a única atriz adulta do filme. Rs .Ela havia assistido o filme em Roterdam (eu acho) e disse que não me reconheceu pq não tinha como ligar aquela personagem aos vídeos do porta. Eu fico muito feliz de poder viver coisas tão versáteis.

Você é atriz de um dos canais de humor mais famosos do Brasil. Como é a sua relação com o humor? Você sempre foi engraçada, ou descobriu essa veia cômica com o tempo?

Minha família diz que desde criança eu sempre fui engraçada. Na adolescência eu fiz alguns amigos e fiquei conhecida bo teatro da escola, por conta disso. Eu sempre gostei de fazer uma gracinha, acho que isso conta muito, mas n é o suficiente. Estudei bastante tbm. Sou formada em Teatro. Tive a felicidade de encontrar mestres excelentes na faculdade que me ensinaram muito do que eu sou e sei fazer hoje.

Como é fazer parte do Porta dos Fundos?Quais foram os aprendizados que você tem tido neste tempo que  está lá?

Eu tô aprendendo muito no canal. A gente tem muito trabalho e é trabalho muito sério. O porta reúne um time de profissionais muito potente, e é por isso que também nos divertimos.

Qual vídeo seu para o Porta que mais te marcou e por quê?

Eu entrei no Porta dos Fundos em Janeiro e de lá para cá, tiveram alguns vídeos que amei gravar, mas o “Escola sem Partido” certamente é o meu favorito. Quando recebi o texto, já vibrei! Essa esquete é uma crítica inteligente e necessária sobre o tempo (no mínimo questionável) que estamos vivendo. Como disse Nina Simone “Como ser artista e não refletir a época?”. Esse vídeo rendeu uma matéria em um dos jornais mais importantes do mundo: o The Guardian.

Como é dividir a cena com o Porchat, um artista que parece fazer humor de forma tão natural? Tem alguma história legal de bastidores pra contar? Qual?

Aprendizados /sobre Porchat e bastidores:
Quando entrei, não entendia muito quando mudava de ângulo, eu ia sempre fazendo o que o diretor pedia e quando eu não entendia imitava os coleguinhas! Rs…
Hoje eu já me sinto mais segura antes e durante os vídeos.
Eu admiro muito o elenco do porta, acho que por isso ficava tímida no início.

Com o Porchat não foi diferente, eu fingia que não tava super feliz de gravar com ele, fingia que era normal! Rs…
Ele é ótimo, sempre conversamos sobre a cena quando gravamos juntos.

Certamente a melhor história que eu tenho para contar de bastidores é do meu pedido de casamento. Meu namorado, agora noivo, combinou tudo com a equipe e elenco e apareceu caracterizado no final de uma esquete que gravamos semana passada. Ainda vai ao ar.

O Porchat disse como ele iria entrar e na hora do gravando falou um monte de coisas que eu nao entendi, botou a mão na minha cara e disse algo parecido com: ” vira p trás”

Eu dei de cara com Romain caracterizado. No início eu fiquei confusa, mas depois que eu entendi o que ia acontecer, fiquei doidinha! Rs

Foi incrível, lindo e inesquecível!

Você está rodando um filme. Pode adiantar um pouco sobre o projeto?

Os diretores Pedro Antonio, Carol Durão e o maravilhoso do Marcos Majela, me convidaram para fazer “Um tio quase perfeito 2”. Eu fiquei muito feliz, pq o primeiro é muito divertido e pq é muito bom trabalhar com quem se admira. O Majela é super gentil dentro e fora de cena.

Minha personagem é a Martinha que junto com Miltinho (Diego Backer) aparecem na trama como amigos fiéis do tio Tony ( Majela). Eles são bem atrapalhados, a gente se diverte bastante.

To aprendendo muito com a equipe desse filme também.

Você criou em parceria com o ator Orlando Caldeira, o Projeto Identidade, que busca trazer representatividade para as artes. O projeto tem cinco anos. Que diferenças você vê neste cenário após esse tempo?

Vejo diferenças sim, estamos caminhando. Até porque tem muitos artistas pretos super talentosos fomentando os seus próprios trabalhos, mas infelizmente ainda estamos longe de um ideal de representatividade. Não é muito difícil observar a discrepância entre o país que somos e o país que escolhemos representar. No entanto, me parece que agora já estamos reconhecendo melhor isso; e como só se resolve um problema que se assume que tem, acredito que estamos caminhando.

Quais são seus planos profissionais futuros?
Eu tô muito empolgada para o próximo ano. Vou estrear dois longas : ” O prisioneiro da liberdade” (Jefferson De) e “Um tio quase perfeito 2″ ( Pedro Antônio) . Estreio tbm uma série ” Cinema de Enredo” (Luiz Antônio Pilar) , teatro e mais uns projetos que ainda estou entendendo…

O Porta dos Fundos é uma vitrine muito potente, outros trabalhos surgem a partir deles e isso é ótimo!