Crítica: A Esposa (2017 – lançamento 2019)

Ser mulher em uma sociedade machista e misógina como a nossa é tarefa das mais árduas. Desde cedo oprimem as mulher e buscam condicioná-las a determinados “papéis” sociais, a serem e agirem de determinadas maneiras. A invisibilização e silenciamento são constantes. Isso é um pouco do que trata do filme A Esposa.

O filme A Esposa, que foi produzido em 2017, porém seu lançamento será agora em janeiro aqui no Brasil, é um retratante angustiante da mulher na sociedade, nesse caso específico encarnada na figura da esposa. A obra fala de Joe Castelman, um escritor já de idade que está em sua casa com a esposa, Joan (Glenn Close) e ele recebe a notícia por telefone de que ele ganhou o prêmio Nobel de Literatura, devendo então viajar para a Suécia a fim de receber o prêmio. Sua esposa, Joan, vai acompanhá-lo.

Vale dizer que A Esposa é um filme daqueles bem “parados”, lentos. O ritmo se arrasta demasiadamente, chegando a ser maçante em alguns momentos e cansando o espectador.

O ator que interpreta Joe, Jonathan Pryce, faz um trabalho razoável. Vimos o quanto ele é capaz de interpretar um personagem odioso, como o Alto Pardal em Game of Thrones e isso se repete em A Esposa. Joe Castelman é narcisista, chato e alheio aos seus defeitos e o quanto é desagradável em vários momentos.

Como é de se esperar, o grande foco é na figura da esposa e como ela lida com tudo aquilo que se relaciona ao marido em si, ao casamento como um todo. O filme, infelizmente, não consegue ser muito misterioso e fazer suspense, ficando evidente em pouquíssimo tempo aquilo que é revelado mais ao final do filme: é Joan na verdade que escreveu todos os livros do marido e não ele. Em outras palavras, Joe é uma farsa e a verdadeira estrela ali é sua esposa.

A Esposa mostra o quanto a mulher é muitas vezes forçada a ser submissa e o quanto ela, devido ao condicionamento e criação machista, acaba reproduzindo essa opressão e se torna submissa, abrindo mão do seu talento, da sua carreira, de tudo, enfim, para ficar à margem, para estar à sombra do marido.

Isso fica bastante evidente, por exemplo, quando Joe e Joan chegam na instituição e a equipe do Nobel os ciceroneiam: ele é apresentado a todos, recebe todos os mimos e glórias, é exaltado, ficando a esposa sempre à sombra, escondida, como uma mera coadjuvante, como se fosse um mero acessório masculino.

Mas a marginalização, submissão, invisibilidade e silenciamento feminino fica ainda mais evidente quando se toca no assunto do talento e da premiação de Joe e todo o processo por trás disso. Ela se suprimiu muito, se reprimiu bastante, em nome do casamento e do marido.

É óbvio que isso a incomoda e a angustia e isso fica claro em todos os momentos, apesar dela buscar camuflar isso para os outros e até mesmo para o marido.

Outro elemento interessante e que suscita diversas reflexões é o quanto Joe é abusivo em seu relacionamento. Isso é exibido nas cenas iniciais, por exemplo, quando ele tenta transar com a esposa e fica persistindo, mesmo quando ela afirma que não quer e acaba cedendo a ele. A violência nem sempre é demonstrada em termos de agressão, mas também quando não respeitamos o outro, suas vontades e seu espaço.

Outro momento em que isso transparece é quando Joan abandona o jantar do Nobel e se dirige ao hotel, onde eles acabam tendo uma enorme discussão. Nessa cena, além da violência verbal, há a violência psicológica, sobretudo quando ele pratica gaslighting com Joan. É uma amostra clara do quanto a figura masculina é violenta quando contrariada e questionada.

A Esposa tem um ritmo cansativo, no sentido da lentidão, mas vale a pena pelos profundos questionamentos e reflexões sobre os papéis sociais femininos e o machismo e misoginia.